Ser o que é ou parecer o que não é. Eis a questão?
Autor: Alex Baroni
JONES, Michael. Creative Accounting, fraud and international accounting scandals. England: Ed. Wiley, 2011.
SZUSTER, Natan. et al. Introdução à Contabilidade Societária. 4a Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2013.
Uma pessoa ao olhar-se diante de um espelho moderno enxergaria seu reflexo com perfeição. Porém a análise que permeia o trabalho que ora se inicia, pondera o seguinte questionamento: Uma companhia diante de suas demonstrações financeiras, enxerga aquilo como um reflexo fidedigno de suas operações? Seguindo os princípios das leis que as cercam a resposta deveria ser um sonoro “sim”. Muitos autores se debruçaram ao longo dos anos a estudar os artifícios, deveras criativo, de uma série de diferentes companhias no processo de lançamento e escrituração de sua contabilidade.
Entre eles, podemos citar Jones (2011), que realizou um trabalho que envolve a análise de como diferentes companhias buscam formas de adulterar seus números na tentativa de exprimir através deles algo que de outra forma os mesmos não seriam capazes de externar. Algumas vezes, por exemplo, inflando as vendas da companhia e mostrando que o resultado anual foi muito maior do que se imaginara. Ou até quiça, para evidenciar que a companhia teve um crescimento expressivo no último ano, quando na verdade isso não ocorreu.
Jones (2011), elencou as cinco maiores práticas, ao que é conhecido como contabilidade criativa. São elas: aumentar a renda, diminuir as despesas, aumentar os ativos, diminuir os passivos e aumentar o fluxo de caixa. Conforme Jones (2011) ponderou, é possível ainda manter equacionados os débitos e créditos de acordo com o método das partidas dobradas, porém reclassificando os lançamentos de outra forma. Como exemplo, pode-se citar uma despesa lançada como um ativo ou um passivo como renda, buscando a manipulação dos resultados.
Em linguajar claro, as companhias que assim fazem estão cometendo fraude, ficando a mercê de sanções a serem aplicadas pelos órgãos competentes. As fraudes são concretizadas de fato, através de basicamente dois pilares: apropriação indevida de ativos e transações fictícias. Jones (2011), entre outros pontos, relata em seu texto o que é conhecido como big bath. Ou seja, através dessa prática os gestores diminuíam a renda no ano da transição de forma que os lucros futuros poderiam vir a ser manipulados no ano seguinte.
Jones (2011), expõe o que é conhecido como o relatório anual da empresa, também chamado de impression management (gerenciamento da impressão). Alguns gestores utilizam-se desse documento para manipular e/ou induzir as informações ali presentes, no intuito de fazer com que os leitores assumam um determinado viés durante a leitura. Nesses relatórios, basicamente três métodos são usados para melhorar a impressão dos resultados: narrativas, gráficos e fotos.
As narrativas desses documentos tipicamente não sofrem auditoria e por isso tornam-se mais vulneráveis de serem manipuladas. A estratégia utilizada nesse processo é buscar enfatizar as boas notícias. Também tenta-se atribuir os resultados ruins a situações fora do controle, como uma recessão. De outra forma, por vezes acabam expondo situações ruins utilizando-se de profunda linguagem técnica, dificultando a análise por parte de quem as lê.
Mas há saídas para que seja possível dirimir tais práticas. De posse, por exemplo, de documentos que exprimam o balanço patrimonial da companhia (BP) e/ou a demonstração de resultado do exercício (DRE), é possível realizar uma série de diferentes análises.
Szuster et al. (2013), expuseram diferentes propósitos da análise financeira, como por exemplo: mensurar o desempenho das unidades, verificar a situação das empresas investidas e analisar a situação creditícia de clientes, concorrentes e fornecedores. Szuster et al. (2013), explicitaram em seu livro literalmente mais de duas dezenas de diferentes fórmulas que buscam denotar os reais números auferidos pela corporação.
Por fim, recorramos a uma análise mais detalhada do subtítulo shakespeariano do trabalho aqui exposto, ‘Ser o que é ou parecer o que não é. Eis a questão?’. Através desse, cabe então lembrar que a frase final no formato interrogativa, questiona algo que não deveria ser tema de discussão, caso as companhias tivessem como parte de suas prerrogativas assumirem a transparência de seus números.
Ou seja, a fraude, além de ser um crime, gera uma série de graves consequências para a situação econômico-financeira de um país. Por exemplo, companhias que venham a induzir investidores a julgarem que a mesma é saudável financeiramente. Assim, esses colocam seu dinheiro em um castelo de areia, sujeito a desmoronar sob a mais singela brisa. Cenário esse que leva a expor as fraquezas de governança corporativa da instituição, podendo causar caos na economia.
Porém, graças a estudos como de Jones (2011) e Szuster et al. (2013), os auditores e stakeholders possuem ferramentas para buscar coibir ações que busquem uma manipulação do cenário da instituição.