Durante a década de 80 o mercado brasileiro era fechado às importações. Então, somente era possível construir equipamentos baseados em componentes eletrônicos presentes em nosso país. Um pequeno punhado de empresas fabricavam equipamentos voltados para a música, as quais dominavam a cena. Eram as únicas em nosso mercado por não terem outros concorrentes estrangeiros.
Os transistores já haviam substituído as válvulas em circuitos amplificadores, embora ainda hoje tenhamos amplificadores valvulados. Mas sobre esse tema deixo para discutir em outro artigo, até porque eu também gosto muito de amplificadores valvulados.
Para que os amplificadores transistorizados conseguissem uma potência maior em sua saída, utilizavam circuitos conhecidos como push-pull. Assim, ao contrário de amplificadores classe A, no qual circula pelo transistor de saída toda o sinal a ser amplificado, nessa outra topologia o processo é diferente. O contraste se explica em razão de em vez de existir um único transistor responsável por levar o sinal até o alto-falante ou para o transformador de saída, no push-pull existem dois transistores. Estes alternam a amplificação do sinal. Assim, a onda é dividida em duas partes. Uma destas partes fica à cargo de um dos transistores, enquanto a outra segue para o segundo transistor.
No sentido de tornar essas montagens menos complexas e mais miniaturizadas, a indústria de componentes eletrônicos já estava há algumas décadas produzindo uma série de diferentes encapsulamentos. Estes são os chamados circuitos integrados, nos quais alguns modelos apresentavam-se em uma única pastilha um amplificador quase completo. Entre esses circuitos integrados voltados para o áudio encontrava-se a famosa linha conhecida pelas iniciais TDA. Existiam diferentes modelos de TDA. Entre eles, se apresentavam circuitos integrados mono, estéreo, com diferentes potências e tensões de alimentação. A maior parte era capaz de gerar watts de potência. Inclusive alguns deles tinham uma aparência que lembrava transistores de média potência (formato SIL). Como por exemplo, o TDA2002, que é capaz de produzir em sua saída cerca de 10 Watts RMS.
Mas vamos voltar a falar da topologia push-pull. Em tradução literal significa empurra e puxa. A explicação é em função do movimento do alto-falante no seu vai e vem. Esse movimento é representado pela divisão do sinal entre os 2 diferentes tipos de transistores – NPN e PNP. Já que cada transistor na saída trabalha com um tipo de sinal. Ou seja, um conduz o sinal em um sentido e o outro no sentido contrário. Também sendo denominado de amplificação Classe B. A qual tem como uma das características atingir potências maiores que na Classe A. Dessa forma dividem o sinal que será amplificado entre eles e conseguindo desta forma uma maior potência de saída. Por outro lado isso não acontece na Classe A, já que o transistor amplifica toda a onda e conduz durante todo o período.
Esses circuitos dominavam grande parte dos amplificadores dos anos 80 e 90. Lembro que meu pai me deu de presente uma caixa amplificada. Assim eu costumava ligava meu violão nela. O volume não era tão alto. Hoje reconheço o problema do circuito. A sensibilidade de entrada do amplificador era baixa. Seria necessária mais uma etapa de pré-amplificação para sinais de baixa intensidade. A etapa push-pull tinha em sua saída somente 1 transistor TIP 31 e um TIP 32. Veja que um deles é do tipo NPN e o outro PNP, ou seja, complementares, conforme exigência para funcionamento do amplificador em Classe B.
O pré-amplificador era formado por 2 transistores de pequena potência, como o BC 549. O alto falante era de dimensões até grandes, tinha 10″ (polegadas). A caixa era feita de madeira aglomerada e o tecido ortofônico era bem fininho, tipo uma meia calça feminina na cor preta. O amplificador tinha um controle de volume e um controle de tonalidade. Havia também um cabo, que não era blindado, onde no extremo existia um plugue macho P2. Esse cabo tinha uns 3 metros de comprimento. Esse plugue podia ser usado para ligar na saída de um rádio FM, por exemplo. Assim, ouvir músicas em um volume bem razoável.
Eu morava em Vila Isabel e era bem de frente para as torres do Sumaré. No Sumaré se localizam as torres de transmissão e repetidoras de sinais de rádio e televisão. Devido à essa grande proximidade com o Sumaré e ao fato do fio de 3 metros com plugue P2 não ser blindado, dava para ouvir rádio sem ter rádio. Como assim? Simples. Por morar em um local onde o sinal de rádio era muito forte, quando o amplificador estava ligado no volume máximo e com o quarto em silêncio total, bem lá no fundo dava para se ouvir uma sobreposição de várias rádios. Era algo muito baixinho por conta da potência de saída do amplificador. Para resolver o problema, um cabo blindado seria o ideal. A caixa toda tinha cerca de 60 centímetros de altura, na cor cinza. Para comutar entre a entrada de áudio pelo plugue P2 macho e o P10 fêmea do painel havia uma chave rotativa.
Para reviver o estilo desse amplificador, resolvi montar um push-pull – Classe B ao estilo da década de 80. O circuito utiliza uma alimentação de 12 Volts, a qual no meu caso é obtida por meio de uma bateria LIPO 3S. A capacidade de fornecimento dessas baterias é muito grande, o que permite que o amplificador funcione por muitas horas sem nenhuma carga.
O alto-falante utilizado é do tipo automotivo. Pensando em qualidade sonora não seria a melhor escolha. No entanto, como possuo diversos destes alto-falantes, achei que valeria a pena o teste. Seguindo a mesma abordagem da reutilização de materiais, o gabinete do amplificador é uma carcaça plástica de um antigo ventilador/aquecedor. O mesmo havia quebrado e o tamanho e formato eram perfeitos para um amplificador diferenciado.